Ser professor e aluno HOJE...
A minha dissertação do mestrado, que além de me fazer crescer muito, me deixou meio com "trauma" de digitar... percebe-se pelo tempo que não atualizo este meu bloguinho, tadinho. A mesma coisa aconteceu com ver e responder emails, percebi que tomei uma certa distância... a gente fica tanto tempo com a careta a tela do computador que quando termina o tempo de mestrado, queremos ver só trivialidades. Ainda estou nesse momento de "estresse pós traumático acadêmico".
Recentemente aconteceram fatos que estão aqui pulando na minha cabeça e
que estão me fazendo pensar muito sobre o papel de ser professor.
No You Tube, eu contei 57 vídeos relacionados à brigas de alunos nas três primeiras páginas de inúmeras. O costume agora entre os alunos é preparar o celular para gravar a briga, onde as meninas se igualaram aos meninos, elas prendem o cabelo em um cóque, ficam descalças e vão ao ataque. Incrível e triste a situação pois ao invés dos colegas torcerem para que não aconteça a briga, eles querem mesmo é ver o circo pegar fogo, eles querem ver pancadaria, apartar? Claro que não... e a diversão deles? : (
Do outro lado da moeda, nós, professores nos vemos inúmeras vezes em situações prá lá de complicadas. Vamos fazer um rápido passeio histórico? Assim compreendemos melhor algumas coisas relacionadas ao tema. Nos anos 40 e 50, a visão que se tinha do professor era de alguém que se doava para passar o
conhecimento aos alunos, ser professor era considerado uma vocação praticamente sacerdotal, quase um mártir ou um santo. Os professores do Brasil começaram a perder esse "status" profissional a
partir da década de 60 quando, de forma muito justa, a classe começou a
lutar por melhores salários e melhores condições de trabalho. A profisão se "dessacralizou", perdeu o caráter de sagrado e não só isso, parece que o professor não pode lutar por nada que estamos eternamente errados... Por que não podemos lutar pelos nossos direitos? Porque só os alunos hoje em dia tem direitos?
Quero deixar claro que não me arrependo e nunca me arrependi da minha escolha pela Educação e pela Educação Física. Amo ser professora, amo minha escola e amo dar aula na SME, fiz faculdade para isso e assim sendo escolhi uma escola onde posso dar aula para adolescentes, faixa etária que mais me identifico. Enfim, recentemente vi no Programa do Jô Soares uma frase da secretária de educação do Rio de Janeiro que foi mais ou menos assim: "A escola tem que saber lidar com as brigas em sala de aula porque no nosso tempo os alunos também brigavam"
Sinceramente eu não lembro de NENHUM momento na minha vida de estudante do Ensino Fundamental ou do Ensino Médio que eu presenciasse brigas de socos e pontapés entre colegas meus, como também se algum colega de turma meu, falando coisas que estamos cansados de escutar como CAR*****, ou FILHO DA ****, ou VAI TOMAR ** **, dentro de sala de aula, e que algum funcionário da escola escutasse, esse aluno sofreria sérias punições.
Não digo que isso não acontecia em nenhum momento, mas de todo o meu coração, porque não preciso mentir, nunca vi coisas que hoje eu vejo. Fui aluna da rede pública do ensino fundamental à universidade e meus colegas não eram desrespeitosos com professores, não haviam as brigas e o palavreado baixo que escutamos.
Tenho certeza que se eu lançar essa pergunta aqui, vcs concordarão comigo porque somos mais ou menos da mesma época.
Então, senhora secretária, com todo o respeito, as brigas até aconteciam, mas hoje em dia, precisamos lidar com coisas muito piores que vem de algum tempo, precisamos lidar com as consequências da desestruturação das famílias, precisamos lidar com a desestruturaçao emocional e social de pessoas que não aguentam mais os seus próprios filhos e pessoínhas que não aguentam mais os seus próprios pais...
Na escola somos tudo: conciliadores, psicólogos, pedagogos, médicos, enfermeiros, mães e até que sobra algum tempo para sermos professores. O tempo que dispomos para as atividades pedagógicas é incrivelmente diminuído pelo tempo utilizado na mediação de conflitos, na conversa com um aluno que pixou a parede ou quebrou a janela, ou arrumando um band aid para o outro que faz a aula de Educação Física de chinelo (porque não tem um tênis).
Tudo isso porque tenho pensado todos os dias na situação dos meus alunos e como podemos tirá-los de situações de riscos... a cabeça chega a doer de tanto pensar, mas tenho trocado idéias com professores mais antigos do que eu que me ajudam muito a "clarear a vista" depois do fato acontecido comigo.
Em Setembro recebi um aluno de outra escola, transferido por ter agredido verbalmente uma professora. Lembro a todos que se esse aluno foi tansferido é pq mil e uma chances já havia sido dada a ele anteriormente. Consegui manter um relacionamento "amigável" com ele, apesar de alguns incidentes desrespeitosos e de pancadaria com outros alunos. Mas, em uma segunda feira desse mês, outro aluno foi ameaçado por esse aluno transferido, que ficou esperando por ele na rua, escondido atrás de uma barraca de doce, à espreita, esperando ele sair da escola para pegá-lo de surpresa. Quem espera "a vítima" escondido não quer coisa boa...
Fui até a porta da escola e não deixei o aluno ameaçado sair, eu queria ver se estava tudo calmo e se ele poderia ir embora em segurança. Como não vi problemas na rua, caminhei ao lado desse aluno na intenção de levá-lo ao ponto de ônibus que fica a 50m da escola. De forma traiçoeira, surge o outro aluno e ataca por trás não dando a menor chance de reação. Na confusão levei um enorme chute na perna direita, que inchou e ficou um grande hematoma, registrado por fotografia, por boletim de ocorrência e até por corpo de delito.
Agora vejam, a que ponto as coisas chegaram, em uma segunda-feira que deveria ser comum, precisei sair da delegacia as 22h e no outro dia eu estava no IML, em uma sala de clínica médica forense para fazer "Exame de Corpo de Delito"!! Como assim?????
Eu não sou assim, viu gente!!!! rsrsrs
Trabalho em uma escola maravilhosa, onde fiz grandes amigos. Os professores e funcionários são muito bons e trabalham direito. Mas o que vemos todos os dias é um grande paternalismo onde os alunos podem tudo, só não podem ser punidos para que não aconteça evasão escolar. Fazemos o que podemos pelo bem da nossa escola e temos um excelente relacionamento. Todos trabalhamos muito e queremos acertar, mas muitas vezes nos sentimos de mãos e pés atados quando por exemplo, chamamos um pai ou uma mãe para nos ajudar a resolver problemas de indisciplina e percebemos esses pais mais perdidos do que os filhos.
Por isso, nada tira da minha cabeça que a família é a responsável por tudo isso. A falta da família, a falta da presença dos pais se une às dificuldades sociais e econômicas e o resultado não pode ser bom. Que Deus nos ajude e tome conta de nós e dos nossos alunos. Cada um com sua história cada um com seu coraçãozinho machucado pela sua história de vida, ok, mas não por isso, poderá agredir os outros porque todos nós temos também a nossa história triste!
Meu aniversário esse ano na escola
A maioria ainda é do bem!
Rever os ex-alunos e vê-los bem é uma grande alegria
Termino este post pensando em como a nossa família é importante na nossa história. Ela é tudo para nós, é o nosso registro de sermos gente nesse planeta Terra. Que somos, nossa identidade, nosso alicerçe, como faz a diferença. Vejo o tempo todo o resultado negativo na vida de adolescentes que sentem um vazio enorme pela falta de atenção e dedicação dos pais. Vivo repetindo para esses alunos que não importa o que os outros fizeram com eles, o que importa é o que eles mesmos irão fazer com a vida deles daqui para frente. Mas eu sei que dói, que é difícil para quem não tem maturidade suficiente para lidar com questões mais elaboradas da vida...
FAMÍLIAS, CUIDEM DAQUILO QUE É MAIS PRECIOSO: SEUS FILHOS!!
Um milhão de beijos a todos,
Edwiges e tropinha
Às 14:48
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