Na saúde e na doença - Parte 1
Como é difícil começar a escrever depois que tantas coisas boas e ruíns aconteceram nesse meio tempo. Nunca quis abandonar meu blog, mas não temos uma vida e um trabalho onde parte do tempo é dedicado a trabalhos on line. Internet para mim é sinônimo de resolver assuntos, pesquisa e divertimento. As coisas do lado de cá da tela do computador são muito agitadas, sempre foram, nos dão cansaço e preocupação, inclusive atualmente estamos vivendo o nosso DESERTO.
Estou escrevendo em obediência a uma ordem de Deus através de uma grande amiga que me mandou escrever sobre esse momento, que possa ajudar a muitos, fazer pensar a outros e principalmente deixar registrado para a "posteridade", para que Maria Clara e João Paulo leiam um dia e saibam que o que move os pais deles é muito amor.
Dei uma pausa agora para ir lá em cima pegar um café e não fui ao segunda andar da minha casa, fui no quarto andar do hospital onde há o CTI, porque gentilmente o hospital coloca um cafezinho para os visitantes dos pacientes internados e eu como boa cafecólotra, vou lá religiosamente bater meu ponto na garrafa de café dos visitantes. Costuma ser uma imagem meio esquisita para quem está lá sentado porque diariamente lá vou eu, subo as escadas, pego o café e desço... cara de pau a minha, né? Ainda mais hoje que fui até lá com roupa de ginástica (porque é mais confortável), meia de academia até a canela (porque aqui faz frio), blusa com o símbolo da "Mulher Maravilha" e chinelo de dedo.... ou seja, estou em casa ou estou no hospital? Um pouco dos dois...
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Minha brincadeira comigo mesma
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Não, estou longe de ser a "Mulher Maravilha", na verdade todos nós sabemos que quando precisamos, quando vivemos momentos de forte estresse, somos movidos pela grandiosa força do AMOR. Essa força que vem de Deus que é Amor, força essa que nos garante ficar de pé diante da cruz. Quando prometemos no altar que seremos fiel na "alegria e na tristeza, na saúde e na doença, na riqueza e na pobreza", parece para muitos poético e é, sim, é lindo. Mas... estamos ali jurando fidelidade aquela pessoa que será seu esposo, sua esposa e temos como testemunha todos os presentes e principalmente Deus que escuta, acolhe e é o único ali que sonda os corações e sabe se nossas intenções são mesmo as melhores. Deus sabe que as nossas intensões eram sérias e agora chegou a hora de vivenciar.
Sergio internou para fazer uma cirurgia bariátrica no dia 20 de Abril, mas uma falha mecânica de um instrumento durante a cirurgia ainda nos prende ao hospital. Já me perguntaram se foi erro médico e sinceramente não tenho porque acreditar em erro médico, acredito na sinceridade dos médicos que me explicaram na falha do grampeador. Não há motivos para começar uma caça às bruxas como também não há motivos para dizer que a cirurgia bariátrica é perigosa, até porque estou EU aqui escrevendo para vocês, sendo que fui operada pelos mesmos cirurgiões.
Quando o quadro do Sergio se complicou por causa de uma grande infecção causada pela falha do grampeador, quando vi o Sergio saindo do quarto e indo para o CTI no dia que íamos para casa, quando vi meu marido cercado de médicos discutindo o que iriam fazer, quando olhei para ele e o vi todo monitorizado com uma aparência de quem realmente estava doente e principalmente o pior momento: quando me falaram que eu teria que tirar forças do fundo da alma para viver essa situação (só de me lembrar dessas coisas, já me dá taquicardia), esses momentos foram duros, muito duros de serem vividos. Não sei como consegui dirigir do hospital até em casa naquele dia, ou seja, sei sim: eu tenho dois filhos.


Relembrar esses piores momentos me dói demais, mas naquele dia horroroso eu havia prometido levar as crianças para lanchar fora. Foi só porque eu havia prometido, porque a minha vontade era de entrar dentro de um buraco e só sair quando esse pesadelo tivesse acabado. Não havia clima nenhum para sair, mas Clarinha e Janjão precisavam e eu havia prometido. Só Deus sabe como foi angustiante ficar em pé na fila para fazer o pedido... Foi aquela tal força que vem do Amor Maior. Voltamos para casa e chorei, chorei muito. Eu não podia ficar sem o Sergio. Como eu ficaria sem ele? Como ficar sem ele com as crianças? Meu Deus, como não foi grande aquela dor naquele momento... como foi grande o medo... como foi grande o desespero... como é duro se manter firme quando você quer simplesmente ser fraca, sumir, desaparecer. Como olhar para meus filhos e explicar para aqueles olhinhos questionadores e apavorados o motivo do meu choro? A fraqueza era tão grande que meu ser inteiro pedia "Por favor, cuidem de mim, da minha casa, dos meus filhos, quero tirar férias e voltar quando tudo tiver acabado, ok?"
Eu não tinha forças, mas nessa hora uma grande mobilização estava acontecendo com os amigos. Eles nos sustentaram, eu fui cuidada por amigos que cuidaram dos meus filhos, levando-os para passear e também cuidaram de mim, me levando e trazendo do hospital quando eu naquele dia seguinte que eu não conseguiria dirigir. As orações se intensificaram de todos os lugares e foram elas que nos mantiveram de pé.
Em casa, a minha oração era apenas o Salmo 127 que é o salmo do Sergio, principalmente o versículo 6 que diz: "para que possa ver os filhos dos seus filhos". Essa havia sido há muito tempo atrás, antes mesmo de nós nos conhecermos, a promessa de Deus para o Sergio: Ele verá os filhos dos filhos dele, então a minha oração foi: Senhor, cumpra sua palavra! Meu marido precisa viver.
Fomos cuidados pela doce presença de Deus que se fazia presente nos pequenos detalhes e aos pouquinhos, o Sergio foi se recuperando, saiu do CTI depois de 2 semanas, foi para a unidade semi intensiva e agora estamos no quarto comum.

Já estivemos para ir embora duas vezes e infelizmente nossas expectativas foram frustradas e isso nos deprimiu demais... Hoje percebemos que o melhor foi FICAR NO HOSPITAL. Deus sempre faz o melhor para nós. O que adiantaria ir para casa se não era a hora? Imagina a dor de cabeça e a tristeza de estar em casa e ter que retornar ao hospital? Então... vamos ficando por aqui mesmo, né? Não posso e não devo dar detalhes na internet, mas o Sergio ainda precisa ficar mais um tempo para se recuperar totalmente. Mas o pior passou. Vivi a grande noite escura da minha vida até hoje, naquele dia que me disseram que eu havia que tirar forças de onde não teria... foi uma noite muito escura, nesses quase 10 anos de casamento foi a MAIS escura. Sei que não será a última, afinal de contas na vida teremos aflições, mas fiquei mais forte, forte naquela força do AMOR. Naquele amor que me fez caminhar até o altar e no Amor que é o próprio Deus.

Se você é casado ou casada, então meu amigo e minha amiga, você está aonde tem que estar? Você está cuidando do que você precisa cuidar? Você está honrando as palavras que saíram da sua boca no altar? Eu vou falar uma coisa para vocês que tenho aprendido vivendo: O CASAMENTO ESTÁ LONGE DE SER UMA INSTITUIÇÃO FALIDA. Não é isso que falam por aí? Pois é, É MENTIRA!!
Durante meus poucos anos de casada, foram poucos os meus amigos que se casaram e se separaram. A grande maioria está unida até hoje, graças a Deus e tem um casamento de qualidade. É difícil e dá trabalho, muitas vezes é cansativo e se houver filhos, mais cansativo. MAS VALE A PENA!!!!
Hoje a minha oração é o Salmo 120, 1: "Para os montes levanto os olhos, de onde me virá o socorro? O meu socorro virá do Senhor, criador do céu e da terra."
Estamos aqui, vivendo um dia a cada vez.
Um grande beijo,
Edwiges e Sergio
Às 19:02
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